29.12.11

Parceria com Fernando Alves

As Palavras Cruzadas aqui publicadas resultam da parceria com Fernando Alves, jornalista da TSF que tive o prazer e a honra de receber no meu local de trabalho, o sótão.
Fernando Alves escolheu as seguintes seis palavras:
Amarelo
Cidade
Deserto
Guitarra
Sereia
Veleiro

"Foram, de entre as que me vieram à cabeça, sem pensar muito, as que me "soaram" melhor.
Espero que sirvam e que se entrelacem sem problemas."
(Fernando Alves, vial e-mail)

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Paulo Freixinho

Nota: As 66 palavras que preenchem a grelha encontram-se na zona dos comentários, ordenadas alfabeticamente.

Para fazer este passatempo online, siga a ligação:


Ligações relacionadas:
Sinais
Rádio de Histórias

Amplexos e ósculos!...

27.12.11

Obrigado, Peixoto

Fui hoje surpreendido com uma mensagem do escritor José Luís Peixoto que me alertava para o facto de o livro  Palavras Cruzadas com Literatura  vir referido na revista Time Out da semana passada (a que termina hoje).
Obviamente, fiquei curioso e corri à tabacaria para comprar um exemplar antes que a revista fosse retirada dos escaparates.
Comprei o meu exemplar. Na capa, o melhor de 2011... os melhores livros... estaria aqui?... achei pouco provável... folheei a revista, obviamente, não estava... hum... continuei a folhear... na página 40, a crónica - Biblioteca Itinerante, por José Luís Peixoto:

Livro de Palavras Cruzadas editado pela Quetzal
(em duas colunas para facilitar a leitura)
Obrigado, Peixoto!
:-)

Nota: não sou o único profissional em Portugal... apenas um que levou muito a peito o significado da palavra  xurdir... ;-)...

Amplexos e ósculos!...

26.12.11

Livro no «i»

Espero que tenha tido um bom Natal.
No sábado tive uma prenda especial, a jornalista Maria Ramos Silva falou comigo sobre o livro Palavras Cruzadas com Literatura e o resultado foi publicado no jornal «i»:

Livro de Palavras Cruzadas editado pela Quetzal

Na mesma página foram publicadas umas Palavras Cruzadas extraídas do capítulo dedicado a Eça de Queirós e um conjunto de palavras anotas durante a leitura e utilizadas nos passatempos:

Vate
Poeta. Palavra anotada durante a leitura da obra "Viagens na Minha Terra". Aparece no capítulo dedicado a Almeida Garrett.

Belfo
Que fala como se tivesse a boca cheia. Palavra anotada durante a leitura da obra "A Sibila" e que aparece no capítulo dedicado a Agustina Bessa-Luís.

Azougue
Esperteza. Palavra anotada durante a leitura da obra "Gráfico de Vendas com Orquídea" e utilizada no capítulo dedicado a Dinis Machado.

Bocanço
Beijo na boca (Alentejo). Palavra anotada durante a leitura de "Cal" e utilizada no capítulo dedicado a José Luís Peixoto.

Endefluxado
Constipado. Palavra anotada durante a leitura de "A Cidade e as Serras" e utilizada no capítulo dedicado a Eça de Queirós.

Pexote
Novato, inexperiente. Palavra anotada durante a leitura de "Ernestina" e utilizada no capítulo dedicado a J. Rentes de Carvalho.

Amplexos e ósculos!...

23.12.11

Natal 2011

A todos os leitores deste blogue, Feliz Natal!



Boas Festas!...

21.12.11

Na livraria mais antiga do mundo

O livro Palavras Cruzadas com Literatura na Bertrand do Chiado:

Bertrand do Chiado

Na livraria mais antiga do mundo.
:-)

Amplexos e ósculos!...

20.12.11

Momentos de felicidade

Não ligo nenhuma ao telemóvel. Acontece-me esquecer-me que ficou sem bateria... uma chamada de telemóvel no telefone fixo lembra-me que o devo pôr a carregar. Foi o que aconteceu hoje.
Liguei o telemóvel e tinha uma mensagem de um amigo:


Hum... este meu amigo não vive no Barreiro e dado que só tenho livros autografados na Bertrand do Barreiro, perguntei: Estás no Barreiro?


Fiquei muito sensibilizado. O escritor José Luís Peixoto autografou a página que abre o capítulo que lhe é dedicado.
Um momento de felicidade que me chegou via telemóvel.

Amplexos e ósculos!...

19.12.11

A prenda de Natal ideal

Sugestão de Natal:
Um livro de Palavras Cruzadas é a prenda ideal para quem gosta deste tipo de passatempo.
Tem um contra, quem receber o livro não irá descansar enquanto não o terminar... esqueça a companhia para o habitual filme de Natal na televisão... ;-)...
Eu também gostaria de receber uma prenda: esgotar a primeira edição do livro Palavras Cruzadas com Literatura.

Livro de Palavras Cruzadas editado pela Quetzal

Mensagem enviada para o universo...
;-)

Boas Festas!...

16.12.11

Conversa com Fernando Alves

Fernando Alves, autor do programa das manhãs da TSF, Sinais, esteve no meu local de trabalho onde falámos sobre Palavras Cruzadas para crianças, sobre o blogue Sabe Mais k(que) os teus Pais e, claro, sobre o meu livro.
A agradável conversa foi hoje transmitida no programa Rádio de Histórias, na TSF.

Destaco:
"Quando lê um romance, ele vai catando palavras mais inusitadas mas regressa sempre aos dicionários... ao seu labirinto feliz."

Foi um prazer (e uma honra) receber este jornalista de excelência no meu sótão.

Aqui fica a ligação:

Amplexos e ósculos!...

15.12.11

Passear ociosamente


Agitar-se (as ondas): Amarulhar
Ave fabulosa que passava por fazer o ninho no mar quando este estava tranquilo: Alcião
Letra B
Bezerro ainda não corrido, e não matreiro: Garraio
Letra C
Cada uma das abóbadas de uma nave:  Tramo
Consertar as margens de uma folha de livro, rota ou gasta, colocando-a ou unindo-a com papel transparente: Solfar
Corda para içar: Guinda
Corda para prender uma das pontas à mão ou ao pé do boi, para evitar que fuja: Cabramo
Letra I
Impudico: Salaz
Letra L
Leigo que presta serviços num convento e usa o hábito de frade: Donato
Letra M
Mergulho (Angola): Fimba
Modalidade de apogamia em que os órgãos femininos não exercitam as suas funções sexuais: Apoginia
Mostruário onde os ourives expõem taças e outros objetos: Taceira
Letra N
Nassa para pescar sáveis e lampreias: Abarga
Novilha de dois anos que já pode lavrar: Aralha
Letra P
Pano de algodão, de inferior qualidade, que serve para forros e outros usos: Garraz
Papas de sumo de uvas verdes, com mel rosado, canela, etc., para abrir o apetite aos cavalos: Armando
Passear ociosamente: Flanar
Personificação poética do prazer, da alegria e dos folguedos: Jocos
Pessoa ou designativo de pessoa estonteada: Zoina
Planta gramínea de Cabo Verde: Cariçó
Letra R
Regeneração dos tecidos orgânicos: Anáfise
Registo de órgão cujo som dá a ideia de quem fala pelo nariz (Mús.): Nasardo
Letra S
Saco de malha miúda, de que são providas as redes de arrasto: Copel
Sair da linha, em esgrima: Quartar
Salgueiral: Seiçal
Salgueiro: Seiça
Som estridente de trombeta: Clangor
Substância de que os antigos se serviam para tingir os tecidos de vermelho: Sandiz
Súcia (prov.): Carava
Letra T
Tecido grosso e encorpado, de seda, lã ou algodão, para reposteiros, sanefas, cobertura de móveis: Repes
Tempo intermédio: Interim

8.12.11

No Meu Peito Não Cabem Pássaros

No Meu Peito Não Cabem Pássaros, de Nuno Camarneiro, foi o livro que serviu de inspiração para elaborar as Palavras Cruzadas aqui publicadas.


Das 59 palavras anotadas durante a leitura, escolhi as seguintes:
Apoplexia
Coda
Galpilestra
Letusto
Lunfardo
Milongas
Sageza

Galpilestra e Letusto são palavras inventadas pelo autor, no entanto o facto de não terem letras isoladas faz com que apareçam escritas com o cruzamento de outras palavras (apesar de haver uma letra coincidente)... em caso de dúvida, basta consultar a lista das palavras utilizadas. 

Clique na imagem para ampliá-la e imprima:


Nota: As 50 palavras que preenchem a grelha encontram-se na zona dos comentários, ordenadas alfabeticamente.

Amplexos e ósculos!...

15 000 visitas

Para que fique registado, este blogue atingiu ontem as 15 000 visitas em 31 dias (15 058, 12 707 visitas únicas)... um novo máximo.


Obrigado pela sua visita.

Amplexos e ósculos!...


4.12.11

Lançamento: Barreiro

E pronto... o dia 3 de dezembro de 2011 fica para a história como o dia em que foi lançado um Livro de Palavras Cruzadas no Barreiro.

Poderia dizer que o momento foi mágico, lindo, inesquecível... foi... mas... fiquei um pouco triste (mas deixemos isso para o fim deste post).

A minha falta de jeito para falar em público deixa sempre muito por dizer... e depois há esta coisa da comoção... sou demasiado emotivo para este tipo de coisas... mas acho que já estou um pouco melhor nesse campo e nem sequer utilizei um pacotinho de lenços de papel... ;-)... mas garanto-vos que foi por um triz... a voz chegou a ficar embargada no início da apresentação... foi um livro muito desejado.

Antes da apresentação almocei com a pessoa que apresentou o livro, o escritor João Lopes Marques.
Mostrei-lhe um pouco do Barreiro velho (a vista privilegiada que se tem de Lisboa e do rio) e definimos, mais ou menos, os tópicos da apresentação.
Depois, o João teve o seu momento de recolha, isolamento, para pôr as coisas no papel.
Depois, o João falou... falou e falou (muito) bem: a língua portuguesa, Dinis Machado, J. Rentes de Carvalho, a história das Palavras Cruzadas... e sobre o meu trabalho... quem esteve no local ficou muito bem impressionado... eu fiquei sem palavras (um problema para quem seria o próximo a falar).

Falei... tinha um papel à frente com algumas coisas que pretendia dizer... disse metade delas.
Levei a minha velhinha mala de couro, mostrei algumas coisas que ali ficaram desde a última vez que a utilizei, uma espécie de «escritório ambulante» nas viagens Barreiro/Lisboa/Barreiro: um pequeno dicionário, um prontuário, uma pasta com folhas quadriculadas e fotocópias de passatempos... as pessoas gostaram de ver.
Depois, um momento especial, outro, fizemos no local umas Palavras Cruzadas em conjunto.
Eu tinha desenhado uma grelha numa tela, fui lendo o enunciado e as pessoas iam respondendo... todos participaram e num instante a grelha ficou preenchida.
Depois, os autógrafos... dei muitos... a família e amigos foram muito generosos...  e é aqui que entra a minha tristeza...

Não querendo alongar-me muito, apenas digo que fico triste com a falta de "interesse" por parte do público em geral... o evento foi divulgado, durante uma semana o livro esteve na montra, ao lado do cartaz que anunciava o evento... apenas apareceu uma pessoa que eu não conhecia...
E não aconteceu só comigo... já tive a experiência de ser a única pessoa que aparece para levar um livro autografado pelo autor.
Podem dizer-me que é mesmo assim, mas eu não sou assim e faz-me uma certa confusão.

Agora, os agradecimentos:

À Sofia Santos, a pessoa que fez questão que eu lançasse o livro na "sua" Bertrand. Estava triste por causa da falta de cadeiras... as cadeiras não fizeram falta... as pessoas juntaram-se numa roda o que tornou o momento mais especial... Sofia, eu gostei muito e obrigado pelo carinho.

À Margarida Ferra, a pessoa que não ignorou uma mensagem privada que lhe enviei através do Twitter (nos tempos áureos do twitter)... não conseguiu estar presente, mas esteve.

À Lúcia Melo, a minha editora, deslocou-se ao Barreiro, disse palavras simpáticas, estava contente por me ter na Quetzal... eu estou muito contente e espero que o livro se venda... só assim haverá continuação nesta nossa parceria que se quer longa.

Ao Bruno Vieira Amaral (Quetzal), que me apoiou neste primeiro lançamento... Bruno, as cadeiras foram um pormenor de somenos.

Ao Francisco José Viegas, sim, o secretário de Estado da Cultura... antes, editor da Quetzal... foi com ele que tive uma reunião e no final disse-me que lhe estaria a realizar um sonho: editar um livro de Palavras Cruzadas...

Ao João Lopes Marques, escritor e guionista do programa "Cuidado com a Língua"... o João conseguiu organizar a sua vida de modo a conseguir apresentar o livro... o João veio de Tallinn, capital da Estónia... ficar-lhe-ei eternamente grato pelo disponibilidade e pelas palavras... o João é um grande amigo... eu adoro os meus amigos.

Aos amigos e à família... não faltaram e ficaram orgulhosos... gostei muito de os ter lá... gosto sempre.

Para terminar, algumas das fotos tiradas pela minha irmã (orgulhosíssima)... o pacotinho de lenços de papel era para ela mas acho que não os utilizou (acho):

Paulo Freixinho

Paulo Freixinho

Bertrand Barreiro - Paulo Freixinho

Bertrand Barreiro

Paulo Freixinho na Bertrand Barreiro

Paulo Freixinho na Bertrand Barreiro

Bertrand Barreiro

Bertrand Barreiro

Bertrand Barreiro

Bertrand Barreiro

O livro no Facebook:
Palavras Cruzadas com Literatura

Amplexos e ósculos!...

3.12.11

Palavras Cruzadas com Literatura - passatempo extra

Hoje vou fazer uma coisa que nunca fiz na vida: apresentar um livro (ainda por cima, o meu livro).
No início do livro aparece uma grelha onde estão cruzados os nomes dos 12 autores escolhidos para este primeiro livro. Essa grelha, é apenas uma imagem representativa do conteúdo do livro. No entanto, não me limitei a cruzar nomes, a grelha foi preenchida.
Este passatempo é, portanto, uma espécie de bónus.

Clique na imagem para ampliá-la e imprima:

Livro de Palavras Cruzadas editado pela Quetzal

Nota: As 48 palavras que preenchem a grelha encontram-se na zona dos comentários, ordenadas alfabeticamente.

Curiosidade: Estas Palavras Cruzadas serão hoje resolvidas em conjunto durante a apresentação do livro: Palavras Cruzadas com Literatura
Local: Bertrand Forum Barreiro, pelas 16:00
O livro será apresentado pelo escritor João Lopes Marques.

Amplexos e ósculos!...

2.12.11

Entrevista publicada no Point24

O Point24 é um semanário luxemburguês em língua portuguesa com o qual colaboro desde outubro.
Tiveram a amabilidade/simpatia de me entrevistar, estive ao telefone com o jornalista Henrique de Burgo, falámos sobre Palavras Cruzadas e Livros... o resultado foi hoje publicado:

 
  :-)
Amplexos e ósculos!...

1.12.11

Uma estória sobre Palavras Cruzadas


Abri a porta de casa, perra, com cuidado de modo a não fazer barulho, fiz algum.
Tenho dezoito degraus pela frente, agrupados em lanços de seis, largos, fáceis de subir, estou habituado.
Subo-os, devagar, um por um, olhando em volta, nada mudou desde o dia anterior. Raramente muda, julgo até que a própria escada se habituou às minhas rotinas.
Podia ser sábado, podia ser domingo.
Outra porta. Meto a chave na ranhura da fechadura. Reparo numa ausência de verniz, circular, desenhada pelas chaves pendentes, pelos anos. Dou duas voltas à chave, abro a porta e entro. Entro no meu mundo, o desvão.
Empurro para cima o interruptor avermelhado.

Luz.

Ao meu lado direito, sob a esquina do telhado, o local de trabalho, o retiro.
A secretária do computador entre dois pequenos móveis de apoio e o estirador que se esconde debaixo de um monte de revistas, papéis, dicionários... tudo arrumado numa desarrumação testemunhada por um calendário que parou no tempo, 1999.
Um L.
Não, um U.
Sim, uma pequena estante com dicionários, prontuários e livros que, por vezes, respondem às minhas dúvidas, faz com que seja um U.
No interior do U, uma cadeira, verde garrafa, que reclama o peso dos anos com uma suplicante chiadeira, não só dos anos.
No chão, encostada ao estirador, a mala de couro, gasta. Uma espécie de escritório ambulante que serviu de secretária nas viagens de barco entre o Barreiro e Lisboa. Muitas vezes, pousava nela os cotovelos e dormitava com a cara apoiada numa das mãos.
Ao meu lado esquerdo, as estantes metálicas, brancas, que carregam 20 anos de passatempos.
A primeira revista, a dedicatória à namorada: “Do namorado que te adora” – Hoje, mulher.
Mais revistas, centenas, do tempo em que passava horas nas casas de fotocópias... ampliações, reduções. Do tempo dos sacos com revistas em promoção, das corridas para o barco, a minha irmã a dizer: – Não posso mais, as minhas canelas vão partir-se. Do tempo em que pais e irmãos ajudavam a pôr por ordem, alfabética, intermináveis listas de palavras.
Desenhos de um desenhador gráfico que preferiu as palavras. Jogos. Pastas e arquivos onde se misturam recordações e ideias. Outras coisas.
Um L.
Sim, aqui os móveis estão dispostos em L.
Espalhados pelo espaço, táxis em miniatura, sempre gostei de juntar coisas.
Os bonecos de barro que fiz que permitiram realizar o sonho de ser músico. O baixo, ali no chão.
À minha frente, o céu deste compartimento acanhado, branco, esconso.
Uma janela.
Dois passos depois, abro a cortina encaixada nas calhas da pequena janela do sótão.
Mais luz. O verdadeiro céu.
Quando, por vezes a noite, fecho a cortina.
Viro a cadeira para mim.

Sento-me.

Sentado, tenho outra visão do espaço, parece-me maior.
Observo algumas fotos: filhas, locais que me marcaram, pessoas que me marcaram... um tio que me demora o olhar – Saudade - estúpido acidente de viação.
Boiões de tinta. Gosto de pintar.

Considero...

Não sou uma pessoa culta, erudita. Não sou linguista. Fui um aluno mediano a Português, gostava de desenhar. Um pouco disléxico até.
Simplesmente, gosto de cruzar palavras e, assim, vou ficando mais culto, um pouco mais versado na língua mãe e melhoro a dislexia.
- Quem diria! – disse-me um dia uma professora antiga.

Recomeço...

Procuro um bloco de folhas quadriculadas sobre o estirador. Encontro-o. Arranco uma folha, A4, dobro-a ao meio e rasgo-a com cuidado.
Pego numa caneta.
Pouso o bico da caneta no vértice de uma das muitas quadrículas da folha e conto.
Conto para mim: dois, quatro, seis, oito, dez... de dois em dois, por fim... onze.
Normalmente, são onze, os pequenos quadrados percorridos.
Primeiro na vertical, de cima para baixo. Voltando ao pondo de partida, traço uma linha na horizontal, da esquerda para a direita... mais onze quadrículas.
Novamente na vertical, desta vez, de baixo para cima. Conto.
Tento acertar no ponto onde terminei a primeira linha vertical e volto a contar, suputar: dois, quatro, seis, oito, dez... onze, na horizontal, da esquerda para a direita, fechando o quadro. Quatro linhas, a grelha, cento e vinte e uma células. Uma tela, por enquanto, despida, nua.
Preencho algumas áreas dessa grelha com riscos rápidos e certeiros de modo a marcar os espaços ausentes de letras. Por vezes surgem curiosos desenhos nesse dispersar de quadrículas pintadas.
Pouso a caneta.
Pego na lapiseira. Nunca um lápis.
A borracha, pouco utilizada, velha, espera a sua vez, descontraída, orgulhosa, sabe da sua utilidade nas situações mais complicadas, daquelas em que até um cabelo, cansado da companhia de dedos massagistas, cai sobre o embaraço.

Penso numa palavra.

Gosto de palavras. Altruísta, paz, ura, amor, livro, aro, amigo, ar, partilhar... xurdir... fazer pela vida.
Aos quarenta anos resolvi tornar-me num leitor compulsivo, ledor.
Encontrei nas frases dos escritores as “minhas” palavras, emprestadas, decoradas, mecanizadas. Afinal, utilizadas.
Descubro outras que servem de inspiração. Anoto-as nas folhas de um caderno, antes vazio... agora, quase cheio.

Sonho...
Desperto...

Volto a pensar numa palavra.
Escrevo, primeiro na horizontal, letra a letra, cada uma no seu sítio. Penso noutra palavra, agora na vertical, que comece por uma das letras daquela que lhe antecedeu, tentando já adivinhar próximos cruzamentos.
Já cruzei muitas palavras... milhões... não me canso.
Vogal, consoante, vogal, consoante... facilita. Vogal, consoante, consoante... dificulta.
O cérebro, treinado, sempre alerta, corresponde. A luta dá-me um certo gozo, prazer.

O puzzle vai ficando completo. Peça a peça, palavra a palavra.

Por vezes, são elas, as palavras, que ditam o destino dos quadrados pintados, sem qualquer simetria. Gosto mais de criar essas Palavras Cruzadas. As palavras mandam então.
Já não uso a tinta da china, já não utilizo a máquina de escrever... um dia pensei em comprar uma máquina de escrever, daquelas que se ligavam à corrente, comprei um computador.

O computador.

Os computadores fazem quase tudo, até Palavras Cruzadas, mas faço questão de continuar a escolher as palavras que enchem as minhas grelhas.
É algo que está bem definido, determinado, eu escolho as palavras, a máquina fica com outras tarefas. Damo-nos bem assim.
Somos, aliás, amigos inseparáveis: o blogue, as redes sociais, a divulgação, a partilha. Feedback, o retorno. O reconhecimento.
Decididamente... não um inimigo, um aliado.

Uma última palavra.

A grelha, antes vazia, completa, pejada de vocábulos, finalmente.
Quando sinto que criei mais do que um simples passatempo, sorrio.
Passou o tempo, não dei por isso.
Pousei a lapiseira sobre a folha quadriculada, ao lado da safa, safinha, como um dia, na Marinha, um grumete do Norte assim me apresentou uma borracha.

Recordo...
Continuo...

O computador está ligado, o teclado receberá as pontas dos meus dedos, treinadas.
Os dicionários digitais estão prontos, os outros, com folhas amareladas, descansam nas prateleiras, mas, por vezes, ainda são abertos numa procura, quase certeira, de um determinado verbete.
Tudo terminará  numa folha impressa que será revista antes que o passatempo se torne revista... ou outra coisa... partilhado... resolvido... solucionado, enfim.

Sonho...
Sonhei este livro...

Nota: Escrevi estas estória no dia em que terminei o meu primeiro livro... partilho-a hoje.

Amplexos e ósculos!...

Para mecenas